Redes: Roma, São Paulo, Buenos Aires, Paris, Lisboa
Nos últimos anos, aconteceu de deslocar-me continuamente. Porém, mais do que habitar em diversos lugares, parece-me que começaram a existir mais Eus. O conjunto destes deslocamentos, o ir e vir de uma cidade para outra, tem a ver com a constituição de uma rede que compõe uma geografia pessoal. Essa rede é composta por lugares, amizades, sentimentos, atividades e trocas intelectuais, bibliografias, músicas, sons, sabores que não considero externos nem ocasionais. Mais do que por geografias, ela é constituída por diversas dimensões e relações que me são familiares, íntimas e dinâmicas. Cada uma das cidades que forma a rede constitui não apenas um conjunto de ruas, estradas, praças e localidades, mas um conjunto de conexões, que compõe, por sua vez, outras redes que se estendem e se conectam com outras localidades, outras pessoas, outros fluxos de informações.
O conjunto destas redes de redes é formado e conectado por meus deslocamentos e por um contínuo fluxo de informações. Considero o conjunto desta rede algo que me constitui e, consequentemente, algo familiar e interno, mas, ao mesmo tempo (e contraditoriamente), também a condição das minhas mudanças e do meu devir. Mais do que cidade, localidade e atividade, o conjunto de conexões que compõe esta rede de redes e esta multiplicidade manifesta-se como a arquitetura constitutiva da minha atual condição. Este conjunto de redes me constitui e me transforma. Estas redes não são, portanto, geografias externas, nem somente espaços a serem atravessados, mas formas e dinâmicas do meu devir. Não me lembro, ao certo, se comecei a pesquisar o habitar e as redes em consequência da minha condição deslocativa ou se comecei a devir e a deslocar em consequência do meu pesquisar. Aprendi, em consequência desse andar, que existe uma estreita relação entre uma especifica latitude e o nosso agir, o que pensamos e o que somos.
Para pesquisador, protestos expressam insatisfação com modelo de democracia representativa
Formado pela Universidade La Sapienza de Roma, com doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado na Sorbonne em Paris, Massimo Di Felice tem sido um dos teóricos mais inovadores no Brasil ao pensar e propor novos rumos para o estudo da comunicação. Além de ministrar aulas na graduação e pós-graduação na Escola de Comunicação de Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Di Felice é também professor visitante na Libera Università di Lingue e Comunicazione (IULM) de Milão e professor convidado na Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina.
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